Quando colocava aquela flor de lis em sua orelha, o que se via era um retrato fiel de deus. Uma doçura de nascer de dia, flor pureza que não era mero sinal, a verdade que ela continha.
Ela fazia os desejos mais noturnos se converterem em contemplação. Ninguém sequer a tocaria. Ninguém poderia desfazê-la de seu altar, mas era tudo o que ela queria.
Suave como a neblina da manhã, ela era a transparência a ser atravessada com estupor até a chegada do sol, e então desvanecia na pura fantasia, no nada acontecer.
Encarava a lua como quem pergunta se dor maior haveria. Seus sonhos eram feitos de flor, e a noite, de clamor por quem viria. Seu perfume era o que pelas redondezas se sentia, mas as lágrimas não tem odor.
Quando então a hora do finalmente, quando da realização de seu desejo quente, alguma saudade lhe arrebata o peito enquanto despe-se do vestido branco. A noite que jamais vai terminar.
A luz do sol começa a entrar pelas janelas e o reflexo a deixa ainda mais bela. O orvalho da neblina da manhã escorre por seus olhos. Nada do que foi feita para ser.
Alguém ainda a vê. Só pode a ver. Seus olhos baixos, e o rosto tímido de lado, lembra-se da infância e quase sorri.
~Longe, lá de longe,
de onde toda beleza do mundo se esconde.
Mande para ontem
uma voz que se expanda e suspenda esse instante.
Longe, lá de longe
Cante para hoje. ~