quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A utopia de quem não se amou

Vai lá me ver, no sol poente sob a luz das árvores.

Protelarei até as últimas horas. Esperarei o canto do galo. Como sou orgulhoso!

Por debaixo desse sorriso, da tentativa do tudo saber, há uma palidez pouco nítida, uma vergonha que se contém e que armazena canções, poemas, coragens. Sobe o tom da profecia e cala-se o dom real.

Foi de muito chão batido que se fez uma boa ovelha, foi de uma solicitude vulnerável que se perdeu entre os dedos a pureza, que permitiu o despertar da carência e fez andar para outros lados.

Foi o dedo podre de si mesmo. Colocou em seu próprio copo o veneno, e tomou às goladas. Não se cansa de tomá-lo? Tem o mesmo gosto falso adocicado? Amargor intrínseco. Boa pergunta e tornou a beber.

Dos males o menor, e bruto, cada vez mais bruto. De volta à terra batida que soltou-se e que sob chuva, lamaçal. Tudo que passa para, atola, desanda. Por traz do pano só se vê culpa. Culpa de quê?

Antes comprasse uma cabeça de gado. Era o próprio pé enterrado. Fizesse a força que fosse acima, mais que podia se afundava.

Deve ser gostoso beber o leite direto da vaca. A possível caminhada na terra batida o acalentaria. Ver o pôr do sol por entre as árvores, e no último momento, olhar-se no espelho, fitar-se despido tranquilo na nudez de ser-se, e então poder se entregar a qualquer morte, o sonho.

Entre a terra e a visão cerrada, o escuro da serra e o chão fofo e molhado. a morada. Quando deu-se por si já era mais que madrugada. E nada via, nada podia. Abaixo da bota ao chapéu. E lá de baixo se ouvia: como sou orgulhoso.