segunda-feira, 3 de junho de 2019

A hora do horizonte

Eu tenho medo
Mas a dor não me ameaça
Corriqueira como cheiro de pão quente
Fito o mundo com bala alojada no peito
A juventude me furtou a esperança
Cores vibrantes deixam muitas sombras
Rodas de samba e o capricho do garçom
Tudo agora me diz respeito
As luzes da cidade me apagam
Algo de não vivo está dentro de mim
Um cinzeiro na mesa do jantar
Goteiras no salão de dança
Eu tenho medo
Escorregadias são as palavras
Esconderijos disfarçados de razão
Já não me admira a inteligência
Uma suculenta a uma rosa
Uma fogueira e um vulcão
Cartas em papel rabiscado
Abrigo de chuva que respinga
E o medo se desfaz no sereno
Que destino a gente perdeu
Procurando na imensidão?
Um motivo de festim
Trem bom é um sussurro
Que diz não sei
Uma caixa de sapato
Com algumas fotos amarelas
Uns dizeres poucos
Riso tímido de outono
Chinelo perdido no quintal
O amor é uma bala alojada no peito
Sem meios de determinar o bem ou o mal
O limite da invasão e da salvaguarda
E o pão está cheirando
As paredes azul pastel
Café na cafeteira esfria rápido
A hora do horizonte nunca é tarde demais.